segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Metamorfose

METAMORFOSE

A eleição do Senador democrata Barack Obama para presidir a nação mais poderosa do mundo comprova um fato, expresso com inteligência na música Como uma onda, autoria de Lulu Santos, que diz: “tudo muda o tempo todo no mundo”. A mudança pode acontecer de maneira lenta, mas às vezes se apresenta brusca ou repentina, verdadeira metamorfose. Assistimos no dia 05 de outubro de 2008, indubitavelmente a mais impressionante reviravolta já protagonizada por uma eleição presidencial americana, mundialmente acompanhada, devido ao interesse despertado por questões bem peculiares. Uma delas foi a ocupação do Iraque pelas tropas americanas, o impasse criado para retirada e conseqüente devolução do território ocupado ao povo iraquiano. Outra seria a grave crise financeira, motivada pela queda das principais Bolsas de Valores e a quebra dos bancos americanos. Fatos que, somados a outros também importantes, propiciaram um clima ainda mais favorável a proposta de mudança do partido democrata: We need change! Deixemos a questão um pouco de lado para contar uma estória de um brasileiro que, como tantos outros, igualmente sonha com o ideal de mudança.
Era uma vez uma sonhadora criança, natural de um “Brasil pobre”, que freqüentava a escola todos os dias, mesmo diante de toda adversidade. A difícil situação financeira nunca serviu de empecilho para que ela fizesse o que mais gostava: estudar. Foi nesse momento da vida que conheceu o preconceito e conviveu com a discriminação. Muitas vezes teve que freqüentar as aulas com o pé descalço, se escondendo para evitar o deboche dos amiguinhos. Ouvia dizer que pobre e negro não tinham vez, não eram gente e mereciam o sofrimento pelo qual passavam. Só lhe restava o desafio, a busca do conhecimento, verificado nos livros, jornais, revistas e na vida, enfim. Também convivia e vivenciava. Na década de 1960 (anos dourados) tomou conhecimento da Guerra do Vietnã, mas o que mais o sensibilizou nessa época, ainda criança, não foi o assassinato do Presidente americano John F. Kennedy (22 Nov 63), mas sim a morte do Pastor negro Martin Luther King, assassinado pela organização racista Ku Klux Klan (04 Abr 68). Na década de 70, assistiu no Brasil o auge da ditadura militar, mas também o surgimento dos movimentos organizados e contrários ao regime instalado no país em 1964. Agora, o então adolescente resolveu “dormir”. Acordou trinta anos depois e se deparou com uma situação diferente, totalmente atípica aos seus olhos, incompreensível e para a qual não estava preparado. Logo na primeira esquina viu uma pessoa com a mão colada ao ouvido, pronunciando palavras em alta voz. Imaginou que se tratava de um louco, mas era apenas alguém ligado ao celular. Mais adiante encontrou vários jovens numa loja com o nome de Lan House, ficou embasbacado com o que presenciou, mas felizmente entendeu que era dessa maneira que os jovens atuais se divertiam e batiam papo numa tal de Internet. Prosseguiu a sua caminhada e encontrou um grupo de amigos na praça, numa entusiasmada conversa sobre política. Parou, então, para ouvir atentamente o que eles falavam. Ouviu alguém dizer: Quem diria, Lula (Luís Inácio Lula da Silva) foi pobre, vítima do preconceito e da discriminação, ex-metalúrgico, hoje é presidente do Brasil. Outro se manifestou para também opinar: Ora, e o Barack Obama (naturalmente sem saber sequer pronunciar o “complicado” nome), é negro e foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Finalmente, o agora adulto parou e se perguntou: Será que eu estou sonhando, o que está acontecendo com esse mundo? Sabe de uma coisa, vou voltar a “dormir”, e regressar daqui a vinte ou trinta anos, pois se Deus quiser esse mundo estará muito melhor. Fui!
Convém lembrar o educador, Professor Paulo Freire, que numa de suas memoráveis mensagens dizia: É um direito que nós, os progressistas, temos de nos emocionar com o sonho de mudança.

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